quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Alfred-François


O pátio de Rear Window e o livro


Nos anos 50, Alfred Hitchcock ainda era considerado nos EUA um diretor “comercial” e, pasmem, sem grande valor artístico. Jovens cineastas franceses como François Truffaut iam na contramão. Para eles Hitch era o supra-sumo da arte cinematográfica. O rei dos planos econômicos.
Na década de 60, Truffaut foi mais fundo e entrevistou Hitch por longas horas. Dissecaram toda a obra do cineasta inglês, descrita por completo no maravilhoso livro Hitchcock-Truffaut.
A análise detalhista do francês mais a autocrítica impiedosa do inglês rendem passagens instigantes, como esta:


Truffaut
A propósito, penso numa coisa que provavelmente é uma regra no seu trabalho: você só mostra a totalidade de um cenário na hora mais dramática da cena. Em Agonia de Amor, quando Gregory Peck parte, humilhado, nós o vemos indo embora, de muito longe, e pela primeira vez vemos o tribunal por inteiro, quando na verdade faz cinqüenta minutos que estamos ali.
Em Janela Indiscreta, você só nos mostra o pátio por inteiro quando a mulher grita, depois da morte do cachorro, e depois que todos os moradores aparecem na janela para ver o que está acontecendo.


Hitchcock
É sempre a questão de escolher o tamanho das imagens em função dos objetivos dramáticos e da emoção, e não simplesmente com a finalidade de mostrar o cenário. Outro dia, eu estava filmando um programa de uma hora para a televisão e via-se um homem entrando numa delegacia para ser preso. No início da cena, filmei o homem bem de perto, entrando, e a porta se fechando; ele se dirige a uma mesa, mas não mostrei todo o cenário. Disseram-me: “Você não quer mostrar toda a delegacia, para que as pessoas saibam que estamos numa delegacia?”. Respondi: “Para quê? Temos o sargento de polícia com três galões no braço e que aparece na abertura da imagem, basta isso para estabelecer que estamos numa delegacia. O plano geral poderá ser muito útil num momento dramático, por que desperdiçá-lo?”. Compartilhe no Facebook

Nenhum comentário: