domingo, 23 de julho de 2006
Uma coisa é uma coisa
Um comentário muito comum ouvido na saída dos cinemas, após o público assistir a um filme baseado em algum livro conhecido é: "o livro é bem melhor do que o filme". Concordo que é um tipo de comparação inevitável de ocorrer, mas convenhamos que são linguagens completamente diferentes, com sensações e emoções bem características, mesmo que uma obra tenha sido baseada na outra. Como diziam os antigos, "uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa".
Creio que isso ocorre geralmente quando o livro é lido antes. Para condensar a história de um livro num filme, são necessárias muitas adaptações no roteiro, como tempo, personagens que se fundem num só e mudanças que podem alterar o conceito original do autor. Na obra-prima literária Lolita (1955), de Nabokov, o personagem central, Humbert Humbert, é um homem de meia idade, quase um psicopata, que acredita que mulheres acima dos 13 anos são praticamente a escória da sociedade e acaba se apaixonando por uma das muitas ninfetas que passaram na sua vida. Já no filme de Kubrick, de 1962, roteirizado pelo próprio Nabokov, o personagem principal foi amenizado para um senhor um tanto normal que simplesmente se apaixona por uma mulher de 14 anos. O enfoque mudou completamente, pois estávamos numa Holywood conservadora, pré revolução sexual, mas isto não quer dizer que o filme não seja sensacional e cheio de sutilezas.
Uma sujestão é ver o filme antes, mas o tiro pode sair pela culatra. No livro Contato (1985), de Carl Sagan, não consegui me desvencilhar do rosto da atriz de Ellie Arroway, que foi protagonizado por Jodie Foster no filme bacana de Robert Zemeckis. Ou então tente ler O Tempo e o Vento sem lembrar de Tarcísio Meira.
Na imagem, Sue Lyon e James Mason em Lolita, de Kubrick. Compartilhe no Facebook
Postado por
Ivan
Tópicos:
Cinema
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3 comentários:
Ivan, me deu um branco... onde entra o personagem do Peter Sellers nesse filme? Se não me engano esse sim era psicótico total... claro q entre outros q ele fez ao lado do Kubrick. Com relação livroxfilme: digamos q é uma comparação descabida diante do poder de um livro.
sds..
No filme o Peter Sellers é o cara que persegue o Mason durante todo o filme. No livro é tratado quase como uma paranóia do Humbert, bem ao estilo Nabokov.
Quanto ao poder de um livro, acho que um filme pode ser tão quanto, mas de maneira diferente. Mas isso é só uma opinião.
A maneira como nossa imaginação constrói uma personagem ou situação, quando estamos lendo um livro é fantástica. Nossos "devaneios" dão uma sensação única. Ali, naquele instante, você é o comandante, ainda que a cumplicidade do autor te incomode. Quantas vezes você deixa o sono de lado, com um abajour como companheiro, para finalmente terminar o livro e somente após descançar depois de um dia de luta..........
Sou apaixonado por cinema, mas meus "devaneios" com a leitura são singulares, únicos.
Parabéns pela escolha do tema....
Um abraço
Êmone
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