domingo, 20 de agosto de 2006

Mendigos da sétima arte


O escritor uruguaio Eduardo Galeano costuma dizer que ele, um apaixonado por futebol, já não torce mais por nenhum time, apenas vive assistindo aos jogos à procura de lances que o emocione, mendigando jogadas que valham a pena ver. Lembro disso sempre que vou à uma sessão de cinema na minha cidade. Não que tenha algo a ver com futebol, mas os aficcionados pela telona vivem uma angústia semelhante à de Galeano.
A emoção de ver um filme numa sala de cinema decente não tem comparação com qualquer home theater. Certa vez fui a uma sessão de um chinês de Hong Kong em um ultra-confortável cineclube (o melhor que conheci e não aqui, obviamente) e pelo que me recordo o filme era bem bacana, pois as poltronas eram tão confortáveis e o ambiente tão acolhedor que dormi metade da sessão. Só era acordado vez ou outra quando explodiam nas potentes caixas de som a trilha sonora do pré-histórico Mamas & The Papas.
Já na minha cidade é impossível tirar um cochilo, quiçá aproveitar um filme acordado, pois vivemos mendigando uma sala que tenha poltronas razoáveis e implorando por um lugar que tenha um som no mínimo compreensível em que se possa ouvir a trilha sonora. Vivemos pedindo aos céus que não passem somente blockbusters de Holywood (não que alguns não sejam divertidos) e agradecemos de coração se a última pérola de Clint Eastwood não passar de trás pra frente por 15 minutos antes de o guarda do cinema desligar o projetor (isso aconteceu mesmo). Ainda ficamos esperançosos que o gerente da sala (quando não deixa a função para o guarda) tenha a delicadeza de não desligar a projeção antes de terminarem todos os créditos e aguardamos de joelhos que arquitetos insensíveis não projetem salas em que a porta de entrada seja exatamente embaixo da tela, tornando a sessão um verdadeiro sacrífício com o vai-e-vém de espectadores atrasados.
Não sou saudosista, mas ando com sinceras saudades do velho Cine Ópera. Compartilhe no Facebook

3 comentários:

Ivan disse...

Sim, o CIC é uma grande lembrança também. Lá assisti Fellini, Buñuel, Wenders, Saura, Hitchcock e muitas outras coisas que jamais verei no cinema novamente. Uma pena. Só nos resta matar a saudade nas locadoras.

Anônimo disse...

Nas minhas férias fui assistir a "Crime Perfeito" antes ainda de tu começares a escrever e não consegui ver e ouvir boa parte do filme. Inacreditável ! Sai puto da cara!

E ainda em Pelotas depois do falecimento do Ópera tive a chance de curtir bons filmes numa tela ainda maior do Cine Pelotense. E assisti sem saber que era a missa de corpo presente "Assassinato em Gosford Park" .... e não foi o único cinema que fechei em Pelotas . Teve um outro no primeiro ano por lá que sem saber fui numa das últimas sessões. O filme era um onde A DROGA eram sensações transmitidas por cds e neurtransmissores... legal até o final holywoodiano. E um parceiro meu destas sessões ainda esteve numa tbém última sessão de um grande de Pelotas , sendo que esse ao menos virou dois porém na reabertura em uma sala vendo um cult se podia escutar bombas e tiros de uma bomba ao lado, pode?

A título de curiosidade eu tinha um conto onde o personagem começava perdendo a atenção de Joana D'arc do Luc Besson olhando para os mofos e mau estado do teto em volta da tela. Depois sai divagando sobre Tanatos, ethos e eros entre um aposentado e estudantes de segundo grau, colegas de sessão, e reclamando do cheiro de morcego das ruas de Pelotas. E acabava dormindo em casa no Grande Hotel onde era Zelador.

Hj... as coisas melhoraram por lá... ao menos o GH foi reformado e virou um centro cultural..

Abraço

Anônimo disse...

IVAN... QUE SURPRESA BOA .TU SEMPRE SURPREENDENDO.BEIJO, NILSA