terça-feira, 28 de agosto de 2007

Um outro olhar


Dizer que Clint Eastwood está num estágio soberbo, com um domínio da linguagem cinematográfica e uma eloqüência mordaz é chover no molhado. Mas não custa ressaltar as qualidades deste filme inusitado por excelência. Em Cartas de Iwo Jima (Letters from Iwo Jima - 2006), o contraponto japonês sobre o prisma norte-americano de A Conquista da Honra (veja aqui), não só se opõe àquele ponto de vista da batalha, como também lança um olhar completamente diferente sobre a guerra , sobre a vida e sobre a própria ilha.

Na mesma fotografia em sépia e falado em japonês, Clint filma belíssimos ângulos opostos da ilha, o interior das cavernas, a vila dos moradores (existiam moradores?) . Aqui Iwo Jima é tratada como um lugar sagrado e não mais apenas como um pedaço de terra a ser assaltado. A esperança também é diferente. Os americanos esperam voltar pra casa, os japoneses apenas morrer na ilha com alguma honra. Além disso os inimigos, sendo os americanos, são tratados à distância como bons, maus, covardes, corajosos, éticos ou bandidos que matam desertores do outro lado à queima-roupa.
Os japoneses não são tratados com benevolência nem de forma caricatural. O olhar de Clint é, por assim dizer, humano e com credibilidade.
Ainda dá para escrever um tratado sobre as interpretações dos atores, Watanabe à frente, focadas nos olhares melancólicos e assustados.

Vamos e venhamos, este diretor de 77 anos é mais incisivo do que dez Michael Moore juntos.


Na imagem, o soldado Saigo e seu olhar perplexo.
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3 comentários:

Anônimo disse...

AI IVAM, ESSA CRITICA ESTÁ PERFEITA. É ISSO AI. ABRAÇOS

HÉLIO

Anônimo disse...

Meu Deus! Até me assustei agora. Entrei para fazer o mesmo comentário do Helinho. Sensacional essa crítica Ivan. Perfeita mesmo. Nota 1000. Quanto aos filmes, mostra a genialidade de Clint ao filmar de forma extraordinária as duas versões. Mas a minha preferida, sem sombra de dúvida, é a japonesa, devido a todos os sentimentos humanos retratados nesta versão. Beijosssss.

Ivan disse...

Também prefiro "Cartas", embora também ache "Flags" muito bom. Creio que em "Cartas", Clint atingiu uma leveza só comparável aos "Imperdoáveis".