domingo, 2 de setembro de 2007

De caso com a gila

A gila é uma fruta muito comum na região serrana de Santa Catarina e Rio Grande do Sul e praticamente desconhecida no litoral. Parente próximo da abóbora e da melancia, é muito utilizada para fazer doces, misturada ao côco ralado.

Por conta de conexões com a cidade serrana de São Joaquim, há anos tenho a oportunidade de provar os doces de gila. Delícia proclamada pelo oriundos da região, pra mim nunca passou de um doce de sabor insípido, como um de abóbora sem a abóbora, restando a apenas o côco e uma pasta sem gosto. Toneladas de doce de gila vindos da serra nunca me convenceram.

Certa vez, viajando de carro pela região centro-sul do Chile, barracas na beira da estrada me chamaram a atenção. Era ela, só podia ser ela. Gilas em profusão sendo vendidas à granel. No café da manhã do hotel, na cidadezinha de Santa Cruz, entre muitos doces disponíveis, lá estava ele, o doce de gila. Experimentei, não havia dúvidas, era a gila. Questionado sobre aquela fruta, o responsável do buffet me informou um nome esquisito que, sinceramente não me lembro. Mas era ela. Estranha conexão esta, serra catarinense e sul do Chile.

O mistério se desvendou ao descobrir que a gila tem origem andina e, segundo uma corrente histórica, teria sido levada à europa pelos colonizadores ibéricos e depois trazida à região serrana de SC e RS pelos mesmos colonizadores europeus. Interessante isto.

Voltando ao sabor da gila, minha sogra, serrana da gema e inconformada com minha opinião radical sobre a mesma (a gila), me presenteou com um exemplar in natura (imagem 1) para fazer experiências na cozinha e, talvez, mudar meu parecer sobre a fruta. Segundo ela, na serra só usam para fazer doce ou dar de comer ao gado. Como não sei fazer o doce...

De qualquer forma, aceitei o desafio e parti para as panelas. Partida ao meio (2) tem um aspecto muito bonito e um aroma leve, quase inexistente, de melancia e abóbora.

Na primeira tentativa, fiz lascas da polpa e salteei no azeite (3), com sal, pimenta branca e nóz-moscada. O resultado (4) foi decepcionante. Este mesmo procedimento com a abóbora, por exemplo, resulta numa delícia leve e saborosa. Aqui não deu para encarar. Totalmente sem gosto e até um leve amargor.

A outra metade cozinhei na água com sal e louro (5) e fiz gnhocchis (6 e 7). O resultado foi mais interessante, apesar da dificuldade por causa da textura fibrosa da polpa e da necessidade de se usar uma quantidade de farinha um pouco acima do indicado. De qualquer forma, ficou com um sabor delicado e comestível, mas a receita precisa ser melhorada. Aprovei (e talvez ganhei pontos com a sogra).

Pra encerrar, soube que em 2006, na cidade gaúcha de Bom Jesus, aconteceu a Primeira Festa da Gila. Até o momento, nenhuma informação sobre a realização da segunda. Como diz um amigo, "se der, eu vou".

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8 comentários:

Anônimo disse...

De caso com a região serrana por alguns anos, sempre passei batido pela gila e seus derivados. Nunca me pareceu nada mais do que um doce de mamão com frio. A fruta, estava em toda parte, esparramada pelos terrenos, pedindo mais consideração. Certamente o reino das Gilas lhe agradecerá eternamente pela tentativa.

Anônimo disse...

Só para assinar o comentário anterior.
Daniel.

Ivan disse...

Dizem que tem também uma tal de rapadura de gila que é um arraso.

Anônimo disse...

Eu tenho a culinaria como Hobbi e Consultoria de Informatica como profissão. Tenho ido rotineiramente para Portugal e me presentearam com um livro de doces portugueses chamado: Doçaria Conventual Portuguesa, autor: Chefe Silva. Pasmem, mais de 60% das receitas tem o doce de Gila como ingrediente.Alguns deles, entre parenteses a região do país: Bolo Bom como Tão Bom (Moura); Bolo conde de Alcaçovas (Viana do Alentejo); Bolo Paraiso (Santar), Bolo REal de Alcaçovas (Viana do Alentejo), dentre outras.
Dicas de preparo do doce segundo o livro:
Parti-la em pedaços, jogando-a ao chão, pois o uso de facas deixa a fruta amarga;
demolhar em agua fria durante algumas horas;
retirar as pevides (não sei o que significa em portugues brasileiro) e a parte amarela (para não dar gosto estranho).
Ponha os pedaços num tacho, cubra com agua e leve a cozer.
Estara cozida quando o miolo se separar das cascas, escorra e esfrie na agua fria, trocando a agua fria seguidamente para dar um choque termico (deve-se brecar o cozimento).
Secar, pesar e cozinhar num preparado de igual quantidade de açucar (em peso), com metade do peso de agua, junto com casca de limão e canela.
Quando este preparado (sem a Gila)atingir o ponto de perola, colocar a fruta, deixar ferver, mexendo com colher de pau (nunca usar utensilio metalico) até fazer o ponto de estrada na calda de açucar.
Como se ve a fruta serve para doce não para salgado, segundo a tradição portuguesa.
Se quiserem as receitas mencionadas e outras de Gila envio em outro topico. Desculpe a extensão do comentario.

Unknown disse...

Anonimo, pode me enviar as outras receitas da gila?, pois tentei fazer doce com essa tal e não consegui. Seguindo esses passos, talvez de certo. Atenciosamente
Anita

Guiga disse...

Já estão na 7ª Festa da Gila!
http://festadagila.wordpress.com/

Unknown disse...

Temperamental essa Gila.

Anônimo disse...

Em Braga (Portugal), numa confeitaria pedi um toucinho do ceu, quando perguntei a composição me falaram que levava alem de gemas e amendoas a Gila.